Ética Organizacional 2012

A palavra “ética” indica a parte da filosofia que trata das questões e dos preceitos relacionados aos valores morais e à conduta humana. Tecnicamente descrito como o conjunto de princípios, normas e regras (leis) que devem ser seguidos para que se estabeleça um comportamento moral, exemplar e equilibrado, pois não devemos perverter o estabelecido com o risco de afetar a seqüência natural dos acontecimentos causando resultados indesejáveis.
Imposta a doutrina que determina o dever de acatar aquilo que está estabelecido, cabe questionar se o que o que está estabelecido está correto. De onde vêm as regras criadas para regular as atitudes individuais frente às relações humanas para disciplinar a conduta da sociedade?
O ser humano é um animal sociável e não há o que contestar no afirmado visto que, desde o aparecimento da espécie humana no planeta, vivemos em grupos por diversos motivos.
A perpetuação da espécie, instinto de defesa, manutenção do fornecimento de alimentos, manifestação do lado lúdico, manifestações artísticas, relações afetivas e outros são argumentos procedentes deste fato.
Logo fica bem claro que o ser humano por si só, não conseguiria dar razão a sua existência e encontrar um equilíbrio adequado sem poder contar com outros semelhantes para avaliar suas ações e atribuir a estas, os benefícios ou malefícios resultantes.
Podemos concluir que a necessidade de estarmos reunidos, faz parte da natureza humana e dentro deste contexto, cabe estabelecer regras no sentido de equilibrar as relações entre os indivíduos evitando conflitos que podem desagregar o grupo.
A origem destas regras é oculta e o impacto da sua aplicação é importante mesmo que seja contestada por uma minoria não atendida. Daí um contra senso, pois a minoria é quem determina as regras a serem seguidas pela maioria. Isto ocorre devido a um fenômeno intelectual imperativo nas relações humanas no qual prevalece o que é determinado por aquele que possui o conhecimento e não a força e, baseado no principio de que sempre vai haver um indivíduo dotado de um intelecto mais expressivo que os demais, reforçamos este paradigma projetando uma pirâmide onde o acúmulo de conhecimento está no ápice.
Definido à necessidade do estabelecimento das regras, começou-se a criá-las partindo das boas práticas originadas na política da boa vizinhança e acredite, não pelo fruto do intelecto privilegiado de algum homo sapiens outrora eleito por seus contemporâneos e sim, de ajustes realizados ao decorrer dos tempos depois de vários conflitos ocorridos entre as partes envolvidas nos interesses comuns.
Eventos que hoje em dia atribuímos como meras bobagens como, por exemplo, sair um de cada vez pela porta, dormir em lugares não ocupado por outro indivíduo, reconhecer as pessoas do grupo, conviver pacificamente com estas, utilizar linguagem adequada e reconhecida pelos membros do grupo facilitando a comunicação e etc.
Em todos os aspectos, as primeiras regras foram surgindo espontaneamente a partir de ajustes efetuados pelas circunstancias que envolviam os acontecimentos e foram adotadas gradativamente por todos em virtude do reconhecimento da necessidade de promovê-las para benefício geral.
À medida que o intelecto humano foi evoluindo, surgiu a capacidade de prever os acontecimentos e antecipar as ações para neutralizar as conseqüências oriundas destes, baseadas em experiências já vivenciadas repetidas vezes o que lhe deu a capacidade de intuir no planejamento das suas atividades.
O próximo passo da evolução foi propiciar aos humanos, a capacidade de antever os acontecimentos e realizar o planejamento antecipado sem a necessidade de experiências vividas anteriormente como âncora, para esta nova fase. Ademais, o planejamento disponibilizou os recursos para realizações de ações projetadas para períodos mais prolongados e voltados a eventos que pudessem contribuir para melhoria da vida social do grupo, a chamada civilização.
Observe que, até em um determinado período no decorrer da evolução da civilização, as regras de convivência não foram estabelecidas formalmente, pois não havia meios para isto e, na base da intuição, elas foram inseridas de maneira efetiva no comportamento dos membros do grupo e incorporadas até nos dias de hoje nas nossas relações de forma inconteste.
Com o aperfeiçoamento do intelecto e o aumento da preocupação com os interesses intrínsecos, a necessidade de criar, direcionar e manter as regras ativas e eficazes com o objetivo de manter o controle da situação em todos os aspectos da sociedade, tornou-se essencial com a intenção mantermos o equilíbrio justo na nossa convivência nos dias de hoje.
É o que chamamos de maneira pejorativa de “Sistema” e o passaporte para desfrutarmos de todas as conveniências deste, é a ética.
Como se fosse um crachá que abre as portas e nos dá acesso aos tesouros do “Sistema”, a ética nos provê o conforto de transitar dentro deste imenso emaranhado de regras (leis), sem a necessidade de justificar o motivo pelo qual estamos usufruindo das benesses oferecidas a quem nele se enquadra mesmo em situações em que a parcela usufruída seja menor que a que se tem de direito e neste caso, aplica-se a regra “não reclamar”.
Mas como diz o ditado popular “pra cada regra, existe uma exceção” e comumente, o ser humano é fervoroso ativista da prática e sempre se coloca em situações de confronto com o que está estabelecido. Não caminha a favor das doutrinas regulatórias e por desconhecimento ou mesmo, como sinal de rebeldia, se mostra intolerante diante das imposições.
Por exemplo: ao avançar um sinal vermelho em um cruzamento, o condutor do veículo esta quebrando uma regra pré-definida para um bom andamento do transito em geral, sem levar em conta, as conseqüências para aqueles que desfrutam do mesmo espaço e da segurança garantida pelo sistema. Ao ser relatada a infração ocorrida, fica caracterizada uma perversão da regra criada para doutrinar o trânsito ocasionando um desequilíbrio momentâneo daquele cenário envolvendo todos os motoristas e pedestres que dividem o espaço naquele momento.
O condutor transgressor, por um momento, afrontou o que está estabelecido com sua atitude e dentro dos conceitos aqui tratados, ele se comportou de maneira antiética causando um desequilíbrio no que está estabelecido provocando uma série de problemas a outras pessoas que não precisariam estar envolvidas no evento.
Embora o relato acima tenha uma conotação pontual, ela é mais ampla do que sugere o tema em questão, pois aí existe uma extensa série de transgressões às normas por motivos variados e por se tratar de um campo onde os conflitos da sociedade ganham dimensões exacerbadas, fica evidente a aplicação da ética.
É evidente que não é adequado avançar o sinal vermelho certo? Então, por que fazê-lo?
Antecipar-se ao problema é mais adequado? É mais ético? É correto?
Sim, claro que sim.
As organizações são partes integrantes deste sistema e a elas são aplicadas as regras estabelecidas pela sociedade, pois nada mais são que uma extensão desta.
Em todos os níveis das atividades humanas, é viável a aplicação da ética organizacional. Não com a pretensão de propiciar o aparecimento de uma sociedade perfeita, um paraíso onde só os seres perfeitos estariam presentes. Sabemos que é difícil e não muito interessante que isto venha a acontecer, mas com a necessidade de estabelecer já, uma sociedade mais equilibrada e adequada para se viver.
Nas organizações, é primordial que a ética seja aplicada para evitar os descaminhos administrativos que impedem o crescimento dos negócios e acarretem perdas dos capitais aplicados com negociações paralelas em que setores ganhem em detrimento de outros que assumem os prejuízos.
É fácil identificar situações em organizações onde os departamentos vivem em conflito por falta de ética daqueles que os coordenam em busca de ótimos resultados para si mesmos em detrimento de outros que tem a necessidade de estar alinhados com as metas e objetivos da organização.
São clássicos os conflitos que existem entre os diversos setores da empresa. Os setores comercial, da produção e da qualidade, poucas vezes se comportam de maneira homogênea e alinhada à estratégia de negócio da organização. O primeiro quer vender tudo o que pode para atingir a meta estabelecida mesmo sem avaliar a capacidade da organização em atender os prazos e a quantidade solicitada pelo cliente. O segundo quer produzir tudo o que foi vendido pelo primeiro sem saber se está fazendo da maneira correta dentro dos requisitos do cliente com o propósito de atender a meta estabelecida. O terceiro que se vê obrigado a repassar para os clientes, todas as não conformidades proporcionadas pelo primeiro e segundo com o agravante de estar sendo cúmplice e omisso em não bloquear o repasse dos problemas adiante unicamente para atender as metas estabelecidas.
É fácil identificar os responsáveis e as conseqüências negativas para o bom andamento das rotinas na organização e inferir na maneira como são executadas as atividades. Minimizar os riscos envolvidos em situações que podem ser evitadas é uma boa prática e aplicando-se o planejamento de maneira antecipada, podem gerar bons resultados nos custos dos processos.
Se for possível fazer a coisa da maneira correta, por que não fazê-la?

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