O mecanismo, que garantiu redução de R$ 44
bilhões nas despesas da Previdência em 12 anos, é tema de diversos
projetos em tramitação na Câmara que propõem a substituição do fator.
O presidente da Câmara, Marco Maia, anunciou a intenção de votar ainda neste ano o projeto de lei que acaba com o fator previdenciário e propõe uma nova fórmula para a concessão dos benefícios (PL 3299/08).
A regra atual baseia-se em um coeficiente obtido a partir do tempo de
contribuição, da idade e da expectativa de sobrevida do segurado à
época da aposentadoria. Ela atinge quem se aposenta por tempo de
contribuição dentro do Regime Geral da Previdência Social, ou, como se
diz popularmente, quem se aposenta pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS).
Antes da sua criação, as aposentadorias por tempo de contribuição
eram calculadas com base na média dos últimos três anos de salário, como
explica o consultor econômico Raul Velloso. "Com o fator, criou-se uma
fórmula diferente, que estimula as pessoas a demorar mais contribuindo. A
fórmula diz o seguinte: se você quiser ficar mais um pouco, você vai
receber um pouco mais; se quiser sair agora, vai receber um pouco menos.
Esta fórmula, que faz este cálculo e ficou conhecida como fator
previdenciário, leva em conta vários fatores, que antes não eram levados
como, além do tempo de contribuição, quantos anos em média uma pessoa
vive, segundo cálculos do IBGE".
O fator previdenciário, porém, não se aplica a quem se aposenta por
invalidez ou pelo regime especial, ou seja, os trabalhadores rurais. No
caso de quem se aposenta por idade, 65 anos para o homem e 60 para a
mulher, aplica-se o que for mais vantajoso para o segurado. A rigidez da
regra é quase consenso.
O deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), ex-ministro da Previdência,
enfatiza que o sistema atinge muito mais o trabalhador celetista. "Não
há nenhuma dúvida de que o fator é muito forte, muito pesado para o
sistema celetista, já que para os outros sistemas de aposentadoria, como
os sistemas públicos, de polícia ou de militares não existe um item com
tal força para retardar essas aposentadorias ou diminuir o valor das
aposentadorias, como o fator previdenciário. Acho muito difícil que o
governo concorde em aceitar a mudança do fator previdenciário. Teria que
ter outro substitutivo, como a introdução da idade mínima."
Aposentadoria precoce
De acordo com especialistas, o fator previdenciário não atingiu seu objetivo inicial de desestimular as aposentadorias precoces. Hoje, o homem pode requerer aposentadoria proporcional aos 53 anos de idade e 30 anos de contribuição. A mulher tem direito à proporcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição.
De acordo com especialistas, o fator previdenciário não atingiu seu objetivo inicial de desestimular as aposentadorias precoces. Hoje, o homem pode requerer aposentadoria proporcional aos 53 anos de idade e 30 anos de contribuição. A mulher tem direito à proporcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição.
Um acompanhamento da curva de idade média de aposentadoria por tempo
de contribuição mostra que ela tem se mantido em torno de 53 anos e meio
nos últimos anos, porque as pessoas preferem perder uma parte do
benefício a deixar para se aposentar depois, como constata o presidente
da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do
Brasil, Álvaro Solon. "O fator não está atingindo o objetivo, que é
fazer com que as pessoas se aposentem mais tarde. Hoje as pessoas se
aposentam e continuam trabalhando. Elas só vão ver o tamanho do prejuízo
quando saírem do mercado de trabalho, ou por falta de inserção no
próprio mercado ou por perda da capacidade laborativa por doença ou
outras circunstâncias. Hoje, no Brasil, as pessoas podem se aposentar e
continuar trabalhando."
Embora o fator previdenciário não tenha conseguido evitar as
aposentadorias precoces, não se pode afirmar que a regra tenha sido um
fracasso do ponto de vista das contas da Previdência Social. Segundo o
diretor do Regime Geral da Previdência Social, Eduardo Pereira, em 12
anos houve uma redução na despesa de aproximadamente R$ 44 bilhões.
Mecanismo perverso
A amortização decorre da redução do valor do benefício a ser pago, que pode chegar a cerca de 40% no caso das mulheres e a 30% para os homens. É por isso que o fator previdenciário é comumente tachado de mecanismo perverso.
A amortização decorre da redução do valor do benefício a ser pago, que pode chegar a cerca de 40% no caso das mulheres e a 30% para os homens. É por isso que o fator previdenciário é comumente tachado de mecanismo perverso.
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força
Sindical, se encaixa entre seus críticos. "Para os trabalhadores, o
fator foi muito perverso porque tirou benefícios das pessoas que pagaram
sua vida inteira e, na hora que mais precisam, perdem 40% do salário.
Do lado do governo foi um grande negócio porque milhões de pessoas se
aposentaram nesse período e foram garfadas em 40%. Foi um assalto ao
bolso dos trabalhadores durante todo esse período e é isso o que a gente
quer evitar daqui para frente."
Já o consultor econômico Raul Velloso defende o fator previdenciário.
"Nós temos um problema de envelhecimento da população e o INSS tem um
déficit muito grande, quando a gente compara com outros países, ou seja,
não tem dinheiro suficiente para pagar todo mundo se este sistema se
mantiver assim pelos próximos anos. Alguma correção vai ter e, se é para
ter correção, eu prefiro uma que eu consiga explicar os fatores que
entram no cálculo."
Uma das razões para explicar o fato de o trabalhador optar pela perda
no valor do benefício pode estar relacionada à possibilidade de os
segurados associarem à renda advinda da aposentadoria à renda obtida no
mercado de trabalho ou dos saques mensais do Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS). Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)
permitiu ao trabalhador, além de retirar todo o dinheiro acumulado no
FGTS no momento da aposentadoria, sacar todo mês o valor que é
mensalmente depositado pela empresa, equivalente a 8% do salário.
Outra razão para aposentadoria precoce pode estar relacionada à
incerteza quanto ao valor do benefício gerada pelo fator previdenciário.
É que a tábua de expectativa de vida, uma das componentes do fator, é
atualizada a cada ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Por isso, o trabalhador não sabe exatamente qual
será a sua renda mensal, caso decida adiar a aposentadoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário