Corporativismo, as vezes um mau necessário.

Nestes tempos de globalização em que os investimentos oscilam instáveis e as fronteiras se pulverizam, as empresas não sentem os alicerces no chão, é importante estar com os olhos bem abertos para não ser pego de surpresa.
A bem pouco tempo atrás, investir recursos financeiros em uma atividade qualquer no mercado não trazia sobressaltos e nem arrepios por conta da concorrência imediata mesmo por que, podia-se fazer uma análise no mercado local e baseado no resultado desta, traçavam-se os planos para que o referido investimento não apresentasse riscos significativos.
Muitas empresas de sucesso consagrado no mercado se mostravam tranqüilas por conta desta comodidade, pois não eram ameaçadas pela concorrência e caminhavam para um futuro promissor na confiança que nada iria mudar seus destinos. As atividades do mercado estavam quase que todas integradas e cada uma das empresas cumpriam seus papéis de atender a demanda que lhes cabiam.
No outro lado do mundo acontecia uma mudança silenciosa que mais tarde viria a ser impactante na vida das empresas do ocidente. Sem se dar conta da situação em que estávamos prestes a vivenciar, o Japão já mostrava quais seriam as tendências para estes novos tempos e de carona, trouxe à luz, outros países do continente asiático para a festa.  
Com uma população que representa um mercado excepcional em quantidade de consumidor em estado latente só faltava dar o “start” para haver um surto de progresso na região que estava aguardando a oportunidade de sair do ostracismo mundial. Dentre eles, a grande nação chinesa e tantas outras não tão imensas, mas com a mesma convicção.
 O Japão pós-guerra mostrou o caminho com muito trabalho atacando aquilo que os ocidentais prezam muito que é a coerência entre o trabalho e a vida cotidiana fora dele. Ouvia-se muitas vezes que no Japão se trabalhava até 18 horas por dia e que não havia tempo nem para se descansar e isto durante o mês inteiro. Foram realizados grandes investimentos na educação tornando a população japonesa altamente qualificada para enfrentar novos desafios. Este prodígio fez com que este país mostrasse ao mundo não só a vocação para o trabalho, mas também no aprimoramento dos produtos e o desenvolvimento de tantos outros inéditos até então. Foram criadas novas ferramentas para ordenar a fabricação em escala barateando de maneira expressiva os custos de produção acarretando assim, uma melhor condição para concorrer no mercado mundial. Em poucos anos, o Japão se tornou uma das economias mais fortes do mundo e hoje desfruta do resultado do empenho aplicado há poucos anos atrás. 
Com certeza, este estado de coisas iria influenciar seus vizinhos mais próximos, pois a receita se mostrava eficiente. Não demorou muito para que a Correia do Sul, a China e tantos outros países da região começassem a mostrar resultados expressivos em suas economias depois que o Japão ganhou o mundo. Em particular a China, que todos temiam.
Por conta de sua imensa população, o ocidente sempre temeu a força de um país que demonstrava suas vocações desde o inicio quando o comércio mundial se restringia ao fluxo de mercadoria entre o ocidente e o oriente através das caravanas e embarcações que faziam este papel.
A China sempre mostrou competência neste quesito e nos últimos anos, vem avançando nas áreas que não se conhecia com muita clareza, o potencial que possuía com relação a suas indústrias.
Durante muito tempo, acreditava-se que os chineses só faziam quinquilharias para vender a preços absurdamente baixos para satisfazer a necessidade de disponibilizar produtos para as classes menos abastadas da sociedade substituindo produtos mais bem elaborados que não alcançavam o poder de compra destes consumidores. Hoje nos surpreendemos com o volume e qualidade dos produtos e os valores agregados a eles, vindo deste país formidável. Após as Olimpíadas de Beijing, o mundo se viu assombrado quando percebeu no que se transformou aquela nação e se deu conta que não haveria volta e as coisas não seriam mais como eram antes. O comércio que era marca registrada dos chineses se transformou em uma arma poderosa na conquista do mercado mundial e acaba sendo um instrumento de mudanças que afeta todas as empresas espalhadas pelo mundo. Com a imensa diversidade de oferta de produtos, a China está representada em quase todos os setores do comércio mundial e poucos domínios sobram para que outros países se apresentem e possam afirmar que é exclusividade destes. As empresas fora desta bolha de progresso estão refazendo suas estratégias de negócios para tentar manterem-se ativas e pelo que se apresenta, está muito difícil equalizar esta situação, pois não são apenas as questões financeiras que se apresentam como obstáculos para mudar de rumos. Há também fatos culturais envolvidos o que aumenta a complexidade do problema a ser resolvido.
Dentro deste cenário extraordinário, de que maneira o corporativismo pode alterar o rumo das coisas?
Na realidade atual, o corporativismo é visto como um junco* que vai permitir respirar dentro do lago sem que sejamos percebidos pelo inimigo que avança e ameaça nossas posições. O corporativismo apresenta personalidade ambígua e faz com que acabemos de nos prostrar a ele mesmo sabendo de suas perversidades condenadas por todos, pois este se apresenta como a última arma a disposição para defendermos os nossos interesses diante do inevitável cataclismo que nos assola.
As organizações ocidentais não adequaram estratégias para confrontar as empresas instaladas na China e outros países da região por causa das dificuldades de realizar mudanças nestas que resultem em otimizar a capacidade produtiva a ponto de acompanhar o desempenho das empresas concorrentes do oriente.
O resultado desta situação é a derrocada do sistema produtivo que adotamos e a maneira que este sistema remunera as empresas. Visamos o ganho maximizado em detrimento do atendimento do mercado e imaginando que se o cliente não comprar aqui, ele não terá outra oportunidade de fazê-lo em outro local. Este engano colossal está estagnando muitas empresas e quando a nau afundar levará consigo para o fundo do abismo, os gestores cúmplices deste apocalipse.
E quando se observa os gestores responsáveis por esta situação, notasse que estes tomam as decisões não de maneira involuntária e sim com a convicção de que estão dando o melhor de si e quando percebem o mal realizado já é tarde e não há mais tempo disponível para mudar o rumo das coisas.
  
* junco = Plantas herbáceas das famílias das ciperáceas e juncáceas, flexíveis e lisas, de caule oco semelhante ao bambu.

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